movimento ordem vigília contra corrupcao

quinta-feira, junho 15, 2006

OS BANDIDOS NA MESA DO CAFÉ

A própria luz do Planalto atravessando as vidraças e banhando os flocos de poeira que flutuam nos torna também fantasmas, e você olha a mancha de iogurte na mesa do café, duvida se aquilo não é um ectoplasma desses putos que pintam o cabelo e beliscam a bunda das secretárias.

Depois de uma hora de braçadas tranqüilas, saio da piscina e subo numa arquibancada de madeira para tirar a toalha da mochila. Olho para uma edificação baixa de tijolos vermelhos, com uma placa: alameda Paissandu. Diante dela, mesas brancas, cadeiras. Numa delas dorme o gato Amaral. O sacana do Amaral, como o chamamos: gordo, castrado, sonolento, ainda assim faz das suas, encostando-se nas gatas, irritando a torcida do Flamengo, "precisamos acabar com esses gatos no clube".
Nesses momentos de contemplação, nuvens desenhando anéis em torno da estátua do Cristo, sinto uma dor por ter dedicado tantos anos à política, com tão escassos resultados. Invade-me uma vontade de mudar de vida, fazer como o narrador do romance "O Enigma da Chegada" (de V.S. Naipaul), que se retira para o interior e passa apenas a observar e escrever o que está na sua frente.
Segunda-feira, auge da crise de violência em São Paulo, parti para Brasília para fazer um discurso de solidariedade e propostas, pensado durante o fim de semana sangrento. Não pude realizá-lo até o fim, embora o plenário estivesse vazio. Minha palavra foi cortada por um presidente ocasional. Ele vem do Norte toda segunda-feira e assume a presidência porque não há ninguém para abrir as sessões. Dá a impressão aos seus eleitores de que é importante, embora já tenha sua prisão preventiva decretada e inúmeras processos. Limitei-me a dizer: "Vossa Excelência é um bandidaço", embora soubesse que até os insultos seriam usados por ele junto aos eleitores como sinal de importância.
A um jornal de Brasília, declarou que aqueles que assistem à TV no seu Estado pensam que é o presidente da Câmara. Ele é desse numeroso e sórdido grupo com que, depois de tantos anos de lutas e sonhos, tenho de conviver no café da Câmara: contas fantasmas, entidades fantasmas, ambulâncias superfaturadas, desvios de verbas no hospital do câncer.
A própria luz do Planalto atravessando as vidraças e banhando os flocos de poeira que flutuam nos torna também fantasmas, e você olha a mancha de iogurte na mesa do café, duvida se aquilo não é um ectoplasma desses putos que pintam o cabelo e beliscam a bunda das secretárias.
Marcola, o líder do PCC, já leu mais livros do que todos eles juntos; os da minha geração, que tiveram uma base político-militar -não no sentido de terem feito ações armadas, mas por terem curiosidade em relação às leis da guerra-, esses praticamente saíram de cena. Fiquei surpreso ao perguntar por um grande nome do Partido Verde alemão, que surgiu nos anos 60, e soube que, ao deixar o governo, está quase aposentado.
Lembrei de tantos outros que se voltaram para suas especialidades acadêmicas, dos que morreram, dos que simplesmente deram uma banana para a idéia de transformar o mundo. De uma certa maneira, foram poupados dessa humilhação que sinto todos os dias ao ver que os bandidos estão triunfando na vida pública, que não só tomaram conta de tudo mas também tomam café ao seu lado, riem para você, falam sobre o tempo e reclamam da dureza da vida política.
É uma ilusão pensar que o mundo do crime ignora essas variáveis. Marcola já esteve aqui depondo e, nos poucos minutos que passei pela sala, olhou-me com muita freqüência, como se quisesse dizer: com esse tipo de gente me interrogando jamais sairá outra coisa, além do desprezo recíproco. O mundo que está ruindo aos meus pés é muito desconcertante, pois leva consigo toda uma forma de pensar a política que nos reduz ao ridículo de tentar trazer a guerra urbana de São Paulo para o parlamento e ser interrompido por um idiota que está posando de presidente para seus eleitores do Norte.
O mundo que está ruindo nos impõe a humilhação de chamar de Congresso brasileiro um lugar onde os dirigentes da mesa estão mergulhados num escândalo e nem sequer pedem licença para serem investigados, um lugar onde o corregedor, num ano eleitoral, foi o primeiro a ser multado pela Justiça por fazer propaganda fora de tempo. Numa semana tão importante, talvez não devesse enfatizar minhas frustrações.
Acontece que não estou sendo humilhado sozinho, nem o está a pequena parcela de deputados honestos.Enquanto não se desvendar o elo entre as quadrilhas que queimam ônibus, metralham policiais, fuzilam inocentes e os bandidos que nos cercam, poucos vão sentir a humilhação que sinto. E quando falo de vínculo não me refiro a advogados, emissários ou mesmo um ou outro deputado que possa estar ligado ao crime organizado.
Refiro-me ao plano simbólico tão bem expresso na célebre frase carioca: está tudo dominado. O tudo dominado revela-se não apenas em números mas também em encenações falsas, pequenas omissões, um rígido controle da agenda para que venha à tona o debate dos verdadeiros problemas do país.Aqui as matracas, os "treisoitões", as bananas de dinamite transfiguram-se em questões de ordem, permita-me um aparte, regimentos internos.
Aqui e ali, no Planalto, onde instalamos um governo destinado precisamente a mudar tudo isso e que, no fim das contas, apenas exacerbou o processo, degradando-se e nos degradando. Só penso em aposentadoria quando vejo o Amaral, gordo, castrado e sacana: divagações à beira da piscina. Não rolei tanto barranco para entregar o ouro aos bandidos. Se há uma boa maneira de viver os últimos dias, essa maneira ainda é o combate. DEP. Fernando Gabeira - Jornal de Brasília.
Comentário:
Quando se perde alma! Quando se perde o respeito! Esperar mais o quê, para sairmos deste labirinto! Este nosso país, sem vida política é uma espécie de morte. Viver de esperança em esperança é o volutear da borboleta de flor em flor. Meu deus! a quanta desgraça, adversidades, catástrofes estamos vendo neste governo cheio de curvas da corrupção e do mal. Por, Gabriela (Movimento da Ordem e Vigília Contra a Corrpução)

4 Comments:

  • RUPTURA INSTITUCIONAL

    Nada justifica que o crime organizado continue a determinar os destinos da Nação Brasileira.
    Ao usurpar o Poder do Estado para a prática sistemática de crimes, a classe política rmpeu as instituições, desqualificando-ses para tratar da Coisa Pública.
    Compete aos segmentos esclarecidos da Nação, em defesa da Soberania Nacional e da Legalidade, restabelecer as instituições, através de Junta Governativa composta por cidadãos SEM vínculo com a classe política. Brasil acima de tudo!
    UND União Nacionalista Democrática

    O que acham da proposta da UND?

    By Anonymous Anônimo, at 4:55 PM  

  • Este governo dos lulista, são como intérpretes da destruição de tudo que honramos até os dias de hoje. Nasceram olhando pra trás. Vivemos numa devoção de esperança
    de um Brasil dentro do mundo civilizado e moderno. Precisamos do Grande Banho de Loja. BRASIL!

    By Anonymous Anônimo, at 9:29 PM  

  • No conjunto de 26 presidentes brasileiros, Mulla tem o terceiro pior desempenho. Tudo indica, conseguirá o primeiro lugar entre os retrógrados da nossa história. Caso seja reeleito, providenciará para que nosso país fique na rabeira da rabeira. Lugar, onde elle se afina muito bem. Já fomos o 8º país em desenvolvimento.

    Agora, governados por esta besta apocalíptica estamos em 18º (só!). Esta praga populista, além de nos arrastar a galope para o subdesenvolvimento econômico, também está nos levando a uma pobreza moral sem precedentes.

    Gabriela, a manutenção da pobreza é sempre a opção dos governantes mal intencionados, indecentes e inescrupulosos. Manter o povo na “sujeira”, na pobreza e na submissão... é a condição sine qua non para nos afastar cada vez mais da consciência, da civilidade.

    Portanto, tirar o Mulla de onde está, é a nossa única chance de lutarmos pelo nosso direito ao “Grande Banho de Loja” Brasil.

    By Anonymous Anônimo, at 10:13 AM  

  • Chega de "homens de macacão” e de seus padrões de "moralidade"(?) na vida pública brasileira ... que se apoiam nas forças do atraso e da bandalheira. Foi acreditando na falácia do PT/Lula que hoje nos vemos envoltos neste cenário de Miséria Moral Absoluta! Chega de “esquerda” inclusive na oposição ao (des)Governo Lulla. Boa parte desses políticos não enxergam que há muito mais a se fazer do que gastar a preciosa energia para querer(re)construir velhos partidos políticos ou tentar tirar de suas tumbas os velhos líderes de revoluções que vão ficar na história como não reproduzíveis como uma ciência (ainda bem!).
    Chega! Queremos ser uma nação DECENTE, CIVILIZADA, RICA e BEM INFORMADA! Chega de ideologias mentirosas!

    By Anonymous Anônimo, at 1:32 PM  

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