"O QUE OCORREU NÃO FOI ACIDENTE, FOI CRIME"
Gostaria imensamente de ter minha dor amenizada por uma manchete que estampasse, em letras garrafais, "GOVERNO ASSASSINA MAIS DE 200 PESSOAS". O assassino não é só aquele que enfia a faca, mas o que, sabendo que o crime vai ocorrer nada faz para impedi-lo. O que ocorreu não pode ser chamado de acidente, vamos dar o nome certo: crime.
Remeto-me ao livro de García Marquez, "Crônica de uma morte anunciada". Todos sabiam e ninguém fez nada. E não me refiro a você, leitor, que se consome em sua impotência diante deste e de tantos descalabros que vimos assistindo semanalmente. Ao ponto de a ministra se permitir ao deboche extremo do "relaxa e goza'? Será esta sua recomendação aos parentes das novas vítimas? Refiro-me às autoridades (in)competentes, inapetentes de trabalho gestor. Refiro-me ao presidente Lula, que, há quantos meses, ó Senhor, disse em uma de suas bazófias inconseqüentes que queria "data e hora para o apagão aéreo acabar", como se não dispusesse da devida autoridade para tal.
Sinto pena de não ter estado na abertura do Pan, de não ter engrossado aquelas bem merecidas vaias. Talvez o presidente não se importe tanto, afinal, quem viaja de avião não é beneficiário de sua bolsa-esmola, não faz parte do seu particular curral eleitoral cevado com o dinheiro que ele arranca de nós. Devem fazer parte das tais "elites", que é como ele escarnece da classe média que faz (apesar do governo) o país crescer.
Qual de nós escapou do medo de voar desde o desastre da Gol HÁ NOVE MESES? Qual de nós assistiu confortável ao jogo de empurra, "a culpa é dos controladores'; "não, é do ministério da defesa'; "a mídia também exagera tudo'; "é do lobby das empreiteiras que só querem fazer obras inúteis e superfaturadas nos aeroportos". Qual de nós deixou de ficar perplexo com a falta de ação efetiva para que o problema se resolvesse?
Perdão, acho que a tal falta de ação geral de governo é de tamanho tão extenso e dura tanto tempo que muitos de nós a ela nos acostumamos. Sou psicanalista, e, por dever de ofício, devo escutar o que meus clientes queiram dizer.
Pois nunca pensei que fosse pronunciar no consultório uma frase que venho repetindo há algum tempo, depois de que mensalões, valeriodutos, Land-Rovers, dólares na cueca, dossiês fajutos, renans calheiros, criminalidade, insegurança pública, impunidade, pizzas e tudo isso que o leitor já sabe se despejam fétida, diária e gosmentamente sobre nossas cabeças. A tal frase: "Não quero falar desse assunto". Os pacientes me respondem com alívio, "Ufa, eu também não! ' É o desabafo da impotência partilhada. "Welcome to Congo'? Talvez seja um insulto ao Congo.
Pois agora quero falar deste assunto. Deram-me a oportunidade de ser menos impotente. Sei que falo por uma enorme quantidade de brasileiros trabalhadores que sustentam essa máquina de (des)governo, muitos mais que os 90 mil do Maracanã, para expressar o nojo e a raiva que esse acúmulo de barbaridades nos provoca. O governo sairá da inação, da omissão criminosa? Alguém será preso, punido por todas essas coisas? Infelizmente, duvido. Talvez condenem a mim, por ter deixado o coração explodir. Pagarei o preço alegremente, lembrando Graciliano Ramos, que, visitado no cárcere, travou com o amigo o seguinte diálogo:
- Puxa Graça, você, aí dentro, de novo?
- E você, o que faz aí fora? Nestes tempos, lugar de homem honesto é na cadeia. Por FRANCISCO DAUDT , 59, é psicanalista e colunista da Revista da Folha
GOVERNO “BRINCA COM VIDAS” ACUSA PRESIDENTE DA IFATCA
O presidente da Federação Internacional de Controladores de Vôo (Ifatca), Marc Baumgartner, declara que não é seguro voar ao Brasil e acusa o governo de estar "brincando com a vida das pessoas". "A falta de segurança está colocando em risco vidas, a economia do País e a credibilidade do Brasil como um estado importante no mundo", afirma a entidade. "O governo sabia de todos os problemas em Congonhas e não fez nada. Eu não voarei ao Brasil como passageiro. É assustador", declara o presidente. Para ele, novos acidentes podem ocorrer a qualquer momento se o governo não modificar sua postura. Baumgartner alerta que o governo é principal responsável por não ter tomado medidas necessárias.
LENTO E COVARDE - I
LULA PODE FAZER PRONUNCIAMENTO SOBRE O ACIDENTE DA TAM
O governo estuda a possibilidade de um pronunciamento do Lula da Silva sobre o acidente aéreo ocorrido na última terça-feira, em São Paulo. Lula está se recuperando da pequena cirurgia que fez ontem pela manhã, para retirar um terçol na pálpebra superior do olho direito, e com isso já teria condições de gravar o pronunciamento. A questão está sendo avaliada na reunião do grupo de coordenação política com o presidente, agora pela manhã, no Palácio do Planalto.
LENTO E COVARDE - II
LULA AINDA NÃO TELEFONOU PARA SERRA. ESTAVA “INCOMODADO” COM O TERÇOL
Vinte e quatro horas depois do acidente com o Airbus da TAM, que matou quase 200 pessoas, o Lula da Silva ainda não havia telefonado para o governador paulista José Serra. Lula designou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, para falar com Serra e também com a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, outra tucana.
A explicação de ontem, de acordo com assessores palacianos foi que o Lula estava 'muito incomodado' com problemas nos olhos, depois de ter se submetido a uma cirurgia para extração de um terçol, no olho direito. Por isso, ele teria reduzido seu tempo de permanência no Planalto, onde se reuniu com o ministro dos Esportes, Orlando Silva, para decidir sobre a sanção do projeto da Timemania. Depois, teria seguido para o Alvorada descansar e se recuperar da cirurgia.
Para a manhã de hoje, Lula convocou uma reunião de coordenação política, que terá como tema principal o acidente com Airbus da TAM. Lula está preocupado com os danos políticos que este acidente trará para a imagem de seu governo. Ele sabe que não terá como apagar a marca de carregar os dois maiores acidentes aéreos do País. Uma das providências para descolar o problema da sua imagem foi transformar o gabinete de crise inicialmente montado no Planalto, com quatro ministros, em uma sala de situação, em Congonhas, São Paulo, bem longe de Brasília. Ao mesmo tempo, substituiu as pessoas do primeiro escalão que estavam fornecendo informações, que, agora, passam a ser dadas pelo assessor especial do Ministério da Defesa, Jorge Godinho, em São Paulo.
Apesar de saber das dificuldades de escapar das acusações de que o seu governo deixou que se estabelecesse uma crise aérea, que não conseguiu solucioná-la e, em menos de dez meses, uma nova tragédia acabou atingindo o País, Lula quer tentar minimizar os estragos. O Planalto se esforçou o dia inteiro para mostrar que o acidente não tem nada a ver com a crise aérea, já sugerindo que, além de falha mecânica, pode ter havido falha humana. O Estado de São Paulo
LENTO E COVARDE – III
O acidente da Gol, o desgoverno culpou os americanos. O caos, o apagão aéreo, ele culpou o FHC e os governos passados. Pelas vaias que recebeu no Maracanã, Lula culpou o César Maia. Agora, no acidente da TAM não tenham a menor dúvida: o culpado vai ser o piloto.
Por Gabriela/Gaúcho (MOVCC)
Remeto-me ao livro de García Marquez, "Crônica de uma morte anunciada". Todos sabiam e ninguém fez nada. E não me refiro a você, leitor, que se consome em sua impotência diante deste e de tantos descalabros que vimos assistindo semanalmente. Ao ponto de a ministra se permitir ao deboche extremo do "relaxa e goza'? Será esta sua recomendação aos parentes das novas vítimas? Refiro-me às autoridades (in)competentes, inapetentes de trabalho gestor. Refiro-me ao presidente Lula, que, há quantos meses, ó Senhor, disse em uma de suas bazófias inconseqüentes que queria "data e hora para o apagão aéreo acabar", como se não dispusesse da devida autoridade para tal.
Sinto pena de não ter estado na abertura do Pan, de não ter engrossado aquelas bem merecidas vaias. Talvez o presidente não se importe tanto, afinal, quem viaja de avião não é beneficiário de sua bolsa-esmola, não faz parte do seu particular curral eleitoral cevado com o dinheiro que ele arranca de nós. Devem fazer parte das tais "elites", que é como ele escarnece da classe média que faz (apesar do governo) o país crescer.
Qual de nós escapou do medo de voar desde o desastre da Gol HÁ NOVE MESES? Qual de nós assistiu confortável ao jogo de empurra, "a culpa é dos controladores'; "não, é do ministério da defesa'; "a mídia também exagera tudo'; "é do lobby das empreiteiras que só querem fazer obras inúteis e superfaturadas nos aeroportos". Qual de nós deixou de ficar perplexo com a falta de ação efetiva para que o problema se resolvesse?
Perdão, acho que a tal falta de ação geral de governo é de tamanho tão extenso e dura tanto tempo que muitos de nós a ela nos acostumamos. Sou psicanalista, e, por dever de ofício, devo escutar o que meus clientes queiram dizer.
Pois nunca pensei que fosse pronunciar no consultório uma frase que venho repetindo há algum tempo, depois de que mensalões, valeriodutos, Land-Rovers, dólares na cueca, dossiês fajutos, renans calheiros, criminalidade, insegurança pública, impunidade, pizzas e tudo isso que o leitor já sabe se despejam fétida, diária e gosmentamente sobre nossas cabeças. A tal frase: "Não quero falar desse assunto". Os pacientes me respondem com alívio, "Ufa, eu também não! ' É o desabafo da impotência partilhada. "Welcome to Congo'? Talvez seja um insulto ao Congo.
Pois agora quero falar deste assunto. Deram-me a oportunidade de ser menos impotente. Sei que falo por uma enorme quantidade de brasileiros trabalhadores que sustentam essa máquina de (des)governo, muitos mais que os 90 mil do Maracanã, para expressar o nojo e a raiva que esse acúmulo de barbaridades nos provoca. O governo sairá da inação, da omissão criminosa? Alguém será preso, punido por todas essas coisas? Infelizmente, duvido. Talvez condenem a mim, por ter deixado o coração explodir. Pagarei o preço alegremente, lembrando Graciliano Ramos, que, visitado no cárcere, travou com o amigo o seguinte diálogo:
- Puxa Graça, você, aí dentro, de novo?
- E você, o que faz aí fora? Nestes tempos, lugar de homem honesto é na cadeia. Por FRANCISCO DAUDT , 59, é psicanalista e colunista da Revista da Folha
GOVERNO “BRINCA COM VIDAS” ACUSA PRESIDENTE DA IFATCA
O presidente da Federação Internacional de Controladores de Vôo (Ifatca), Marc Baumgartner, declara que não é seguro voar ao Brasil e acusa o governo de estar "brincando com a vida das pessoas". "A falta de segurança está colocando em risco vidas, a economia do País e a credibilidade do Brasil como um estado importante no mundo", afirma a entidade. "O governo sabia de todos os problemas em Congonhas e não fez nada. Eu não voarei ao Brasil como passageiro. É assustador", declara o presidente. Para ele, novos acidentes podem ocorrer a qualquer momento se o governo não modificar sua postura. Baumgartner alerta que o governo é principal responsável por não ter tomado medidas necessárias.
LENTO E COVARDE - I
LULA PODE FAZER PRONUNCIAMENTO SOBRE O ACIDENTE DA TAM
O governo estuda a possibilidade de um pronunciamento do Lula da Silva sobre o acidente aéreo ocorrido na última terça-feira, em São Paulo. Lula está se recuperando da pequena cirurgia que fez ontem pela manhã, para retirar um terçol na pálpebra superior do olho direito, e com isso já teria condições de gravar o pronunciamento. A questão está sendo avaliada na reunião do grupo de coordenação política com o presidente, agora pela manhã, no Palácio do Planalto.
LENTO E COVARDE - II
LULA AINDA NÃO TELEFONOU PARA SERRA. ESTAVA “INCOMODADO” COM O TERÇOL
Vinte e quatro horas depois do acidente com o Airbus da TAM, que matou quase 200 pessoas, o Lula da Silva ainda não havia telefonado para o governador paulista José Serra. Lula designou seu chefe de gabinete, Gilberto Carvalho, para falar com Serra e também com a governadora do Rio Grande do Sul, Yeda Crusius, outra tucana.
A explicação de ontem, de acordo com assessores palacianos foi que o Lula estava 'muito incomodado' com problemas nos olhos, depois de ter se submetido a uma cirurgia para extração de um terçol, no olho direito. Por isso, ele teria reduzido seu tempo de permanência no Planalto, onde se reuniu com o ministro dos Esportes, Orlando Silva, para decidir sobre a sanção do projeto da Timemania. Depois, teria seguido para o Alvorada descansar e se recuperar da cirurgia.
Para a manhã de hoje, Lula convocou uma reunião de coordenação política, que terá como tema principal o acidente com Airbus da TAM. Lula está preocupado com os danos políticos que este acidente trará para a imagem de seu governo. Ele sabe que não terá como apagar a marca de carregar os dois maiores acidentes aéreos do País. Uma das providências para descolar o problema da sua imagem foi transformar o gabinete de crise inicialmente montado no Planalto, com quatro ministros, em uma sala de situação, em Congonhas, São Paulo, bem longe de Brasília. Ao mesmo tempo, substituiu as pessoas do primeiro escalão que estavam fornecendo informações, que, agora, passam a ser dadas pelo assessor especial do Ministério da Defesa, Jorge Godinho, em São Paulo.
Apesar de saber das dificuldades de escapar das acusações de que o seu governo deixou que se estabelecesse uma crise aérea, que não conseguiu solucioná-la e, em menos de dez meses, uma nova tragédia acabou atingindo o País, Lula quer tentar minimizar os estragos. O Planalto se esforçou o dia inteiro para mostrar que o acidente não tem nada a ver com a crise aérea, já sugerindo que, além de falha mecânica, pode ter havido falha humana. O Estado de São Paulo
LENTO E COVARDE – III
O acidente da Gol, o desgoverno culpou os americanos. O caos, o apagão aéreo, ele culpou o FHC e os governos passados. Pelas vaias que recebeu no Maracanã, Lula culpou o César Maia. Agora, no acidente da TAM não tenham a menor dúvida: o culpado vai ser o piloto.
Por Gabriela/Gaúcho (MOVCC)
1 Comments:
Prezados Gabriela e Gaúcho,
Boa noite.
Não deixem de ler a nota do Reinaldo azevedo de agora, se gravarama comemoração dos marginais, diante da notícia que o o culpado é o avião, é o fim do mundo. Parece que a gravação existe.
Acabei de postar a minha contribuição a respeito deste trágico acidente.
Abração,
Numa determinada parte do filme Kundun, de Martin Scorsese, Siddhartha Gautama resolveu conhecer, em segredo, o mundo, a realidade de seu entorno social, além dos muros do palácio que o mantinham longe e isolado do povo. E foi deste modo que ele conheceu a dor e todos os sofrimentos que se abatiam sobre os seus semelhantes. Percebeu o quão diminuta e impotente era a sua pessoa, diante da inevitabilidade da morte. Siddhartha conhecia, assim, a realidade do sofrimento humano.
Se na vaia do Maracanã lhe faltou coragem para encarar a realidade, agora lhe faltou algo muito mais grave: humanidade e compaixão.
Isso é que dá eleger gente que se junta com revanchistas derrotados que não tem outra coisa em mente que não seja a tomada — patológica — do poder.
Afinal de contas, isso é gente? É humano?
Não! É apenas o retrato, sem retoques, do presidente do Brasil.
Ele não precisa mais se pronunciar, ou dizer mais coisa porra alguma. Até porque o seu sumiço e o seu silêncio planejado e covarde, já dizem tudo.
Huuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuuu!
Bagli&Blog
http://baglieblog.blogspot.com/
By a, at 10:41 PM
Postar um comentário
<< Home