O TRIUNFO DA IGNORÂNCIA
Na luta entre sem-terra avessos à tecnologia e a pesquisa de ponta, os primeiros levam a melhor.
Pedro Rugeroni, presidente da subsidiária brasileira da Syngenta, uma das maiores empresas de sementes do mundo, tenta, em vão, vencer um desafio surrealista -- explicar à matriz na Suíça por que não consegue retomar um centro de pesquisas em Cascavel, no Paraná, invadido há quatro meses por trabalhadores sem-terra que têm por objetivo voltar à Idade da Pedra.
Também precisa encontrar formas de explicar que, apesar da agressão de que é vítima, a Syngenta foi multada em 1 milhão de reais por fazer pesquisas com transgênicos. Por ora, tudo o que está claro para os suíços é que a confusão envolvendo os sem-terra vai custar muito caro à empresa.
Na busca de espécies cada vez mais produtivas, a Syngenta lança novas variedades de plantas todos os anos. A unidade de Cascavel testa a adaptação das novas sementes para o Sul e o Centro-Oeste do Brasil -- sem ela, os lançamentos estão comprometidos. A empresa já perdeu 1 milhão de dólares por não ter concluído os testes do primeiro semestre. Pelas estimativas de Rugeroni, se não reassumir logo as operações, perderá mais 1,5 milhão de dólares na próxima safra e pode ficar sem outros 5 milhões em investimentos que estavam previstos e, obviamente, correm o risco de ir para a gaveta. A lacuna aberta no calendário de pesquisas ainda pode gerar prejuízo de 50 milhões de dólares em vendas não realizadas nos próximos três anos. "Não tenho como pedir novos investimentos no Brasil", diz Rugeroni. "A nossa situação é inaceitável."O imbróglio envolvendo a Syngenta é exemplar para mostrar o tratamento que o Brasil dispensa aos investidores que insistem em aportar seu dinheiro por aqui. Em teoria, países emergentes como o Brasil têm motivos de sobra para comemorar a construção de um laboratório de pesquisa de uma multinacional do porte da Syngenta. Na prática, o país tem feito o possível e o impossível para que a empresa se arrependa amargamente da decisão.Logo após a invasão, Fabrício Mussi, juiz da primeira vara cível de Cascavel, emitiu uma liminar determinando a reintegração de posse -- mas até agora, quatro meses depois, ela não foi cumprida. "O problema é que o centro de pesquisa fica justamente no Paraná", diz o advogado Antônio Monteiro, especialista em direito ambiental e sócio do escritório Pinheiro Neto, que defende a Syngenta. "O estado retrocedeu à Idade das Trevas na aplicação de biotecnologia na agricultura." Um decreto do ex-governador Jaime Lerner determina que apenas o governador pode ordenar ações de desocupação à Polícia Militar.
Roberto Requião, o atual ocupante do cargo, é publicamente contrário aos transgênicos e não teve pressa em colaborar com a Syngenta. Fazer vista grossa a ordens de desocupação é rotina na região. "Já perdi a conta de quan tas reintegrações de posse não foram feitas", diz Mussi. "O sistema jurídico não prevê sanções efetivas para o caso de o governador não cumprir uma ordem judicial."
Como se não bastasse o nó jurídico no estado, a empresa também se vê às voltas com um debate legal na esfera federal. Um dia após a ocupação, a organização não-governamental Terra de Direitos anunciou que a Syngenta e dezenas de fazendas na região plantavam transgênicos ilegalmente.Na avaliação da ONG, todos infringiram uma resolução de 1990 que proíbe o plantio de organismos geneticamente modificados a menos de 10 quilômetros de reservas naturais. A Syngenta está a 6 quilômetros do Parque Nacional do Iguaçu. O escritório regional do Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (Ibama) recebeu a lista da ONG, acatou a interpretação e autuou todos. A Syngenta foi multada em 1 milhão de reais e os experimentos com transgênicos foram retirados da estação de pesquisa.Na avaliação do departamento jurídico da Syngenta, as leis de biossegurança e de reservas florestais substituíram a antiga resolução e já não existem mais restrições ao plantio de transgênicos junto a parques. "Somos uma empresa séria e não desrespeitamos a lei", diz Rugeroni. "Tínhamos autorização da Comissão Técnica Nacional de Biossegurança para fazer pesquisas com transgênicos. Não podemos ser punidos se a legislação do Brasil é confusa e os órgãos públicos não se entendem."
Enquanto a Syngenta recorre à Justiça, os 400 sem-terra que se mudaram para o centro de pesquisa comportam-se como donos do lugar. Uma placa anuncia que a área agora se chama Acampamento Terra Livre -- na concepção dos invasores, livre de transgênicos, adubos químicos e outras invenções nefastas do agronegócio. No portão principal estão estiradas as bandeiras dos movimentos que reivindicam a posse da área. O líder é a Via Campesina, que se identifica como um grupo internacional de camponeses em favor da biodiversidade. Foi também ela a responsável pela invasão e destruição do horto florestal da Aracruz Celulose, no Rio Grande do Sul, ocorrida em março. Apóiam a ocupação o Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST), o Movimento dos Pequenos Agricultores (MPA) e o Movimento dos Atingidos por Barragens (MAB), embora não haja nenhuma usina em construção há quilômetros dali.Onde antes existiam experimentos com sementes hoje correm galinhas e porcos entre os barracos. Há ainda cavalos, burros, bois e vacas pastando. A safra de milho da Syngenta, uma nova espécie que prometia mais produtividade ao campo, arde sob o sol. As espigas são debulhadas aos poucos para alimentar os animais. O bosque de pinheiros vem sendo cortado para alimentar fogões improvisados.
"Não vamos sair daqui", diz Celso Barbosa, da direção do MST e da Via Campesina. "Nossa meta é transformar a área em um centro de agroecologia voltado para o desenvolvimento de sementes crioulas. Não teremos químicos e vamos usar arados puxados por animais." A obsessão do grupo é acabar com tudo que lembre tecnologia.A tal "semente crioula" tem mais de 300 anos e é herança de antigas comunidades indígenas, como os incas. Nas estufas onde as mudas da Syngenta secaram ao abandono, o solo já é preparado para receber as tais sementes puras. O plantio será supervisionado por técnicos formados em escolas mantidas em parceria entre o MST, o governo do Paraná e a Venezuela de Hugo Chávez. "As multinacionais não vão abusar da nossa soberania", diz Barbosa. Por, Por Alexa Salomão -EXAME
Comentário:
O triunfo da Era Lulla?...Não, mesmo!...Vá plantar "semente crioula" no teu buraco! A resposta prá esta afronta virá!...Principalmente, do setor do agronegócio. Por, Gaucho/Gabriela (Movimento da Ordem e Vigília Contra a Corrupção)
6 Comments:
Sempre a mão do chávez emporcalhando ainda mais o nosso País, com a devida conivência do apedeuta vendido. O MST sempre aplaudiu as medidas adotadas pelo governo venezuelano, e sempre afirmou que deveriam servir de modelo para o Brasil. Aí está: o ódio à propriedade particular, o desrespeito.
By Anônimo, at 11:38 AM
Sempre a mão do chávez emporcalhando ainda mais o nosso País, com a devida conivência do apedeuta vendido. O MST sempre aplaudiu as medidas adotadas pelo governo venezuelano, e sempre afirmou que deveriam servir de modelo para o Brasil. Aí está: o ódio à propriedade particular, o desrespeito.
By Anônimo, at 11:38 AM
O fim dessa desordem toda esta no fim...
O nosso voto, nossa arma!
By CAntonio, at 12:17 PM
Gaúcho,
Essa corja nunca foram trabalhadores rurais, não tem idéia pra que serve o desenvolvimento de sementes resistentes as pragas e que se adaptem ao clima de cada região, são vagabundos que acham que a comida cai do céu, porque para eles cai.
Beijo
By Unknown, at 2:18 PM
Amigos do Movimento, boa tarde.
Lendo esse artigo,lembrei-me daquelas seitas medievais, descritas por Yourcenar, nas quais fanáticos religiosos meio enlouquecidos e absolutamente ignorantes destruiam em dias o fruto do trabalho e do estudo de séculos para, em seu lugar, deixar apenas trevas e destruição.
O pior é saber que a opinião pessoal de um simples indivíduo, como Requião, neste caso, está acima da legislação, da justiça e dos contratos firmados entre iguais, os principais instrumentos em que se baseiam a sociedade e a civilização.
By Anônimo, at 3:21 PM
Sem propriedade privada, não existe liberdade. Por isso investem tanto no MST. Essa quadrilha do Stédile tem um papel bem definido neste processo de desestablização e implantação do autoritarismo, no país. O Chávez qdo assumiu o governo, desapropriou 70% das terras produtivas na Venezuela.
By Anônimo, at 5:19 PM
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