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sexta-feira, outubro 19, 2007

REAÇÃO À PROPAGANDA CHAVISTA NO BRASIL

PRESENTE DE CARACAS

Parlamentares e historiadores afirmam que a distribuição de livro sobre Simón Bolívar nas escolas do DF faz parte de uma perigosa estratégia de doutrinação que presidente venezuelano tenta impor à América Latina – Por Claudio Dantas Sequeira e Erika Klingl - Da equipe do Correio

A distribuição gratuita no Brasil do livro Simón Bolívar — O libertador integra uma perigosa estratégia de propaganda política do Hugo Chávez. Uma ação que, ao alcançar estudantes do ensino fundamental de mais de 600 escolas públicas do Distrito Federal, representa o avanço do aparelhamento ideológico dedicado a expandir as idéias do socialismo do século 21 dentro das fronteiras brasileiras.

O título do livro em espanhol, Doctrina del libertador Simón Bolívar, revela a mensagem ideológica que a tradução para o português pretendeu esconder. E os textos de apresentação da obra enaltecem a figura do Libertador sobre as bases dos discursos que Chávez repete à exaustão desde que chegou ao poder, há quase uma década.

A deputada Raquel Teixeira (PSDB-GO) se surpreendeu com a notícia publicada ontem pelo Correio
aqui. Para ela, a disseminação das idéias de Bolívar “faz parte do pacote político-ideológico que Hugo Chávez tem vendido à América Latina”. “Ele é agressivo nessa estratégia de bolivarização do continente e isso está claro. Precisamos saber é em que condições o GDF aceitou isso”, questiona. Teixeira, que é professora, alerta para o fato de que Chávez está impondo um modelo doutrinário no sistema educacional na Venezuela e punindo quem não se alinha. “As escolas particulares serão fechadas”, adverte.

OUTRAS AÇÕES
Para o historiador Virgílio Caixeta Arraes, da UnB, a tentativa de disseminar uma ideologia é clara. Ele lembra que “há outras ações”, como batizar uma refinaria em Pernambuco com o nome do brasileiro José Inácio de Abreu e Lima, um dos generais de Bolívar. O livro, que será lançado no dia 30 em cerimônia no Museu Nacional, simplesmente ignora as contradições de Simón Bolívar. “Bolívar nunca se aproximou de algo parecido com o socialismo. Ele era adepto da monarquia”, afirma Arraes. Miguel Nagib, coordenador do site http://www.escolasempartido.org, adverte que a comunidade escolar deve estar “atenta ao uso que os professores militantes, simpatizantes de Hugo Chávez, farão da obra”. “É aí que mora o perigo.” O livro, que reúne 100 textos de Bolívar, foi financiado pela construtora Norberto Odebrecht, que tem diversos projetos de infra-estrutura na Venezuela.

O Correio apurou que o acordo para lançar a obra foi negociado em sigilo entre o embaixador da Venezuela no Brasil, Julio García Montoya, e a administração do GDF. A idéia é entregar os exemplares diretamente aos diretores das escolas. A publicação da notícia pegou de surpresa os gestores do Ensino Fundamental, já que a doação de obras para a rede pública de ensino do Distrito Federal não é prática comum. “É muito raro receber livros gratuitamente para consulta”, explicou à reportagem a coordenadora de História do Ensino Fundamental, Albetiza Costa Dias. Ela garante que a escolha da bibliografia dos estudantes parte dos professores e respeita a autonomia da direção das escolas.

Regina Vinhaes, membro do Conselho Nacional de Educação e professora da Faculdade de Educação da UnB, acha que “não existe neutralidade”. “É uma grande bobagem achar que o livro didático é neutro. Ele sempre foi usado como instrumento político, por isso o governo o financia”, diz. O secretário de Educação, José Luiz Valente, se defende. “É polêmico, sem dúvida, mas trabalhamos com a educação dos estudantes em primeiro lugar”, argumenta. “Os livros sobre Bolívar serão tratados como as outras bibliografias distribuídas às escolas. Estamos trabalhando, por exemplo, com a ampla distribuição de 10 obras de escritores negros, o que é inédito no país.”

Desde que iniciou a aproximação com o governo Lula, a diplomacia chavista não perde a oportunidade de tentar convencer seus interlocutores brasileiros a apoiar o projeto venezuelano. Já distribuiu livros editados em espanhol sobre a doutrina bolivariana, organizou palestras e debates. Em 2006, durante a feira de livros Literamerica, em Cuiabá, a embaixada venezuelana doou a diretores e professores universitários cerca de 200 exemplares de uma tradução em espanhol de Os Miseráveis, do romancista francês Vitor Hugo — considerado um reformista na seara política.

PROFESSORES CAUTELOSOS
Da Redação


Professores e diretores de escolas públicas do Distrito Federal afirmaram que não divulgarão o livro de Simón Bolívar de forma ideológica e doutrinária. Eles dizem que introduzir as idéias do líder, que lutou pela independência dos territórios da América espanhola, pode ser importante para que os alunos conheçam mais sobre o continente, mas deixam claro que a abordagem será feita de forma a incitar uma reflexão crítica, não partidária.

O diretor do Centro de Ensino Polivalente, Fábio Pereira de Souza, admite que o presidente venezuelano, Hugo Chávez, pode ter intenções de difundir no Brasil a ideologia de Bolívar, grande inspirador da revolução socialista empreendida pelo governante. No entanto, Souza afirma que é a forma como o professor apresenta o livro que determina a mensagem apreendida pelo aluno. “Dizem que o objetivo da distribuição dos livros é difundir a cultura da América Latina, mas não se sabe se há outras intenções”, ponderou. “O modo como o professor introduzirá o material é que vai fazer a diferença.”

Para a professora de história de 5a e 6a séries do Polivalente Luciana Leite Correa, o livro pode trazer conseqüências positivas ou negativas, a depender da forma como será apresentado pelas instituições de ensino. Correa defende que os alunos tenham mais contato com a história da América Latina, mas diz que é importante evitar o ressurgimento do nacionalismo. “Todo assunto deve ser transmitido de forma a incitar a reflexão. Eu temo a volta do nacionalismo, que foi um grande erro histórico”, afirmou a professora. “É importante introduzir os pensamentos de Bolívar de forma crítica. Evitamos apresentar os líderes como se fossem heróis”, acrescentou.

O professor de geografia do Centro de Ensino Fundamental 3 Wellington Raw afirma que, apesar de Hugo Chávez se propor a ser líder, ele não tem condições de empreender qualquer espécie de doutrinamento. “Ele é muito mais de falácias do que de ação”, afirmou.

Por Gaúcho/Gabriela (MOVCC)